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Poema e Poesia de Guerra Junqueiro

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E disse-me: Poeta, ao longe no horizonte 
Não vês quase a lamber a abóbada do céu 
Brilhante e luminoso um túmido escarcéu? 
Como alvacento leão, na rápida carreira 
Vem sacudindo a juba... A natureza inteira 
Cisma, contempla, escuta o cântico profundo 
Em trágico silêncio. O Sol já moribundo 
Resvala-lhe no dorso, iria-lho de chamas, 
Como dum monstro enorme as fúlgidas escamas... 
Rugindo enovelada em turbilhão insano, 
A vaga colossal, rasoira do oceano, 

Lá vem rolando grave, e deixa ao caminhar 
Um campo atrás dum monte, um lago atrás dum 
                                                            [mar! 
Qual lúcida serpente agora ei-la decresce 
Em curva indefinida;—alonga-se... parece 
Que a terra há-de estoirar em brancos estilhaços 
No círculo fatal dos seus enormes braços. 
Como galope infrene! Ei-la que chega!... voa 
Num ímpeto feroz, num salto de leoa 
Aos rudes alcantis! e em hórrida tormenta 
Na rígida tranqueira o vagalhão rebenta, 
Bramindo pelo ar: trepa, vacila, nuta, 
E exânime por fim, vencida nesta luta, 
Sem voz, sem força, inerte, exausta, esfarrapada   . 
Lá vai... aonde a leve a ríspida nortada. 
No entanto uma outra vaga e outra e outra e mais, 
Exército sem fim de monstros colossais, 
Lá partem do horizonte e vem uma por uma 
Rugir e desfazer-se em flocos de alva espuma. 

Mas neste galopar indómito, infinito 
As ondas vão minando a rocha de granito... 

Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'

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