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Poema e Poesia de Álvaro de Campos

Desgraça
Álvaro de Campos

Pecado Original

Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? 
Será essa, se alguém a escrever, 
A verdadeira história da humanidade. 

O que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo; 
O que não há somos nós, e a verdade está aí. 

Sou quem falhei ser. 
Somos todos quem nos supusemos. 
A nossa realidade é o que não conseguimos nunca. 

Que é daquela nossa verdade — o sonho à janela da infância? 
Que é daquela nossa certeza — o propósito a mesa de depois? 

Medito, a cabeça curvada contra as mãos sobrepostas 
Sobre o parapeito alto da janela de sacada, 
Sentado de lado numa cadeira, depois de jantar. 

Que é da minha realidade, que só tenho a vida? 
Que é de mim, que sou só quem existo? 

Quantos Césares fui! 

Na alma, e com alguma verdade; 
Na imaginação, e com alguma justiça; 
Na inteligência, e com alguma razão — 
Meu Deus! meu Deus! meu Deus! 
Quantos Césares fui! 
Quantos Césares fui! 
Quantos Césares fui! 

em "Poemas" 

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