loading gif
Loading...

Poema e Poesia de Carlos Drummond de Andrade

Cada irmão é diferente. 
Sozinho acoplado a outros sozinhos. 
A linguagem sobe escadas, do mais moço, 
ao mais velho e seu castelo de importância. 
A linguagem desce escadas, do mais velho 
ao mísero caçula. 

São seis ou são seiscentas 
distâncias que se cruzam, se dilatam 
no gesto, no calar, no pensamento? 
Que léguas de um a outro irmão. 
Entretanto, o campo aberto, 
os mesmos copos, 

o mesmo vinhático das camas iguais. 
A casa é a mesma. Igual, 
vista por olhos diferentes? 

São estranhos próximos, atentos 
à área de domínio, indevassáveis. 
Guardar o seu segredo, sua alma, 
seus objectos de toalete. Ninguém ouse 
indevida cópia de outra vida. 

Ser irmão é ser o quê? Uma presença 
a decifrar mais tarde, com saudade? 
Com saudade de quê? De uma pueril 
vontade de ser irmão futuro, antigo e sempre? 

em 'Boitempo'

Voltar

Faça o login na sua conta do Portal