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Sinopse

Um dos livros mais importantes do século XX, Rumo ao Farol é também um dos romances mais conhecidos de Virgínia Woolf.
A tranquila Mrs Ramsay, o trágico mas ao mesmo tempo absurdo Mr Ramsay, juntamente com os seus filhos e vários convidados, encontram-se de férias na Ilha de Skye.
Mrs Ramsay assume o papel de esposa e mãe perante os seus hóspedes: Lily Briscoe, a artista frustrada, Minta e Paul, o jovem casal apaixonado, e Charles Tansley, o misantropo estudante, que se encontra sob o seu fascínio. O desejo de James, o seu filho mais novo, é fazer uma viagem de barco até ao Farol.
A partir da expectativa da visita ao farol, Virginia Woolf constrói uma narrativa comovente sobre as complexas tensões e fidelidades existentes numa família.

Críticas ao livro " Rumo ao farol "

Fonte: Enzo Potel

To the Lightouse (Ao Farol, Rumo ao Farol ou Passeio ao Farol), publicado em 1927, é considerado por muitos, incluindo a própria autora, o melhor livro de Virginia Woolf. É numa obra como essa que podemos entender seu destacamento na literatura pela habilidade genial em orquestrar o pensamento de vários personagens concentrados num mesmo dia e local; cada pensamento reagindo ao pensamento do outro, onde uma fala é somente a ponta do iceberg – por isso toda a obra registra a parte imersa, essa “sinfonia secreta” do cotidiano.

Se o leitor espera encontrar frases de efeito irá desapontar-se. Se com o pretexto do fluxo de consciência iremos acessar riquezas da mente humana, grandes questionamentos e grandes respostas, não é isso que se encontra em Rumo ao Farol. A magia do livro está no posicionamento de maestro em que Virginia se coloca para coordenar e sustentar os percursos das mentes de dez personagens, durante um dia, na primeira parte do livro (“A Janela”). Na segunda e breve passagem (“O Tempo passa”) a casa, dez anos depois, torna-se a personagem, e os móveis deteriorados e os cômodos vazios são narrados numa perspectiva de caráter. Na última parte do livro (“O Farol”), finalmente realiza-se o desejo que foi abarcado na primeira parte da obra: uma reparação - só que ela acontece justo quando a vítima nem lembra mais do que aconteceu. É um enredo simples, mas que, girando em torno das sensações e ilusões mais presentes na vida de cada um, torna-se épico.


Virginia Woolf disse certa vez a célebre frase em um ensaio: “On or about December 1910, human character changed” (“Em ou por volta de dezembro de 1910 – e aí vem a ambigüidade da palavra character, que simboliza tanto “personagem” quanto “caráter” – humano mudou”). As relações entre “masters and servants, husbands and wives, parents and children” se alteraram “and when human relations change there is at the same time a change in religion, conduct, politics and literature.” Virginia entendeu que novos escritores como D. H. Lawrence, E. M. Foster e James Joyce estavam fazendo esse serviço. Seus romances eram novos e diferentes de tudo o que já tinha sido feito.

Para assegurar essa opinião de que o ser humano tinha mudado, Woolf sacrifica até uma das personagens de Rumo ao Farol. Prue, a filha mais velha da senhora Ramsay (e que ia seguindo os passos da mãe), não aparece na terceira parte do livro porque morre em trabalho de parto. Ou seja: essa concepção vitoriana de mulher, caracterizada pelo século XIX, pela submissão, pela conduta passiva em que se forma uma dama, mãe e empregada num mesmo corpo, precisava morrer. É a artista solteira Lily Briscoe que, na última parte, toma as rédeas da voz protagonista e sustenta uma vida nova e livre (não sem dor) de padrões sociais, que se estabelecerá no novo século.

Depois da publicação do livro, Woolf escreveu sobre a possível representação do casamento de seus pais, fazendo de Rumo ao Farol uma elegia: “Eu era obcecada pelos dois incuravelmente; e escrever sobre eles era um ato necessário”. Em seus diários, Virginia gravou as inúmeras dificuldades de construção da obra, incluindo seus medos de reviver a morte deles. Julia Stephen morreu quando Virginia tinha treze anos. Considerada modelo de esposa e mulher, Julia era conhecida por se esgotar regularmente para satisfazer as necessidades do marido. Um comportamento que Woolf viria a impregnar no character da Sra. Ramsay.

E é maravilhoso ver os pensamentos de Woolf ganhando voz nessas páginas. “Não podemos ser todos Ticianos e Darwins”, diz um personagem escritor. Virginia tinha tudo para pensar assim também e mal sabia que ela mesma estava sendo um Ticiano ou Darwin da literatura. Fica a dúvida de como trabalha essa mente que consegue pensar por dez; uma mente altruísta, sempre conectada ao próximo, investigando o que está por trás desde um levantar de sobrancelhas até uma fala excessivamente condolente.

Existem umas estruturações de pensamento muito particulares em Virginia que demais encantam. Há um capítulo na última parte da obra que se resume a isso: “O filho de Malicaster pegou um dos peixes e cortou um pedaço de seu flanco para servir de isca para o anzol. O corpo mutilado – ainda estava vivo – foi de novo atirado ao mar”. E, logo em seguida, Virginia nos recoloca na interiorização das personagens como se aquela atitude fosse tão pacífica e natural como o passeio que estavam fazendo de barco. Mas existe outro trecho, mais profundo ainda, na primeira parte. O personagem William Bankes lembra-se de uma caminhada que fez com o Sr. Ramsay, onde viram uma galinha abrindo as asas para proteger uma ninhada de pintinhos. Ramsay aponta a bengala e diz: “bonito, bonito.” E a autora diz que exatamente naquele momento a amizade tinha acabado. “Depois, Ramsay se casara.” A forma como a autora coloca as coisas dá a sensação de que a galinha aninhando os filhotes seria a culpada pelo fim da amizade. É evidente que o fim se deu por um desgaste natural e que não esperou por uma briga. Assim, colocando o movimento da galinha como uma marcação, como um símbolo de tempo, Woolf trabalha num fluxo de inconsciência: a beleza da galinha aninhando os filhotes coincide com a beleza que Ramsay estava procurando na vida a partir daquele momento – e por isso se casaria logo em seguida, abandonando a vida anterior onde William Bankes se encaixava.

No capítulo dezessete, cena do jantar, encontra-se uma das passagens mais impressionantes do livro. A Sra. Ramsay está servindo a todos na mesa e sentindo-se completamente distante daquele lugar. Mas de repente acha que se não for por ela, a vida vai deixar de acontecer ali, então dá a corda em si própria. Com dó do Sr. William Bankes, por não ter esposa nem filhos e jantar sozinho no quarto todas as noites, pergunta se encontrou as cartas que ela havia deixado lá para ele. Logo em seguida o foco do texto muda e, num certo retorno, a pintora Lily Briscoe percebe como a Sra. Ramsay está distante e de repente pergunta a William Bankes sobre as cartas. Por que ela usava um tom de piedade para falar com ele? Era um adulto, tinha seu trabalho; e de repente Lily lembra-se do seu também, que é a pintura. Lily reflete mais um pouco sobre o quadro que está pintando e move o saleiro da mesa num mínimo gesto para lembrar a si mesma de trazer a árvore ao centro de sua tela. A prosa poderia ser infinita se Virginia ainda conectasse o pensamento de alguém àquele movimento do saleiro feito por Lily.

— por Enzo Potel

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