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Raízes - Maria Teresa Horta


Poemas

2013-04-22 00:00:00

Poemas de Maria Teresa Horta. "A Pele", "Poema", "Armadilhado" e "Arrebatada"

A PELE

A pele goza
a pele muda
a pele sangra

Na turvação oculta
sob os dedos
no enredo do ciúme

A hesitar
em ser arrebatada
ou ser enredo

A pele vive
e pulsa
a pele gosta

Entrega-se na pressa
à desmesura, debaixo
do vestido a sussurrar

Como um pássaro
de lume
ou de loucura

A pele quer e fere
renda e faca
a pele sara e fecha na cintura

Ferro no arroubo
veia intacta
tacto de cetim e aventura

Mas logo cicatriza
quando rasga
ora eclipse ora lua

A pele conta
e seduz
a pele invoca

Com o seu
febril odor
de pérola acesa

Tendo da camélia
a maciez do sexo
amêndoa fendida na beleza

A pele entorna
a pele turva despida
a pele evita

A pele cura
mata
e silencía

Da palma e da vagina
o lento odor da folha
do roseiral do corpo

E da poesia

(in. rev.Inútil)

 

POEMA

Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé até ao meu ouvido

Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido

Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido

Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo

Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido

Ele trepa de manso e logo tão voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído

Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho

Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho

Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido

À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo

(in “Inquietude”)

 

ARMADILHADO

Quero a paixão ardente
e árdua. Incendiando o corpo.
Com o seu sobressalto alado

A vergasta cruel
que a sedução conduz
até ao desejo armadilhado

(inédito)

 

ARREBATADA

Eu não quero a ternura
quero o fogo
a chama da loucura desatada

quero a febre dos sentidos
e o desejo
o tumulto da paixão arrebatada

Eu não quero só o olhar
quero o corpo
abismo de navalha que nos mata

quero o cume da avidez
e do delírio
sequiosa faminta apaixonada

Eu não quero o deleite
do amor
quero tudo o que é voraz

Eu quero a lava

(inédito)

 

Maria Teresa Horta

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